quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Riscos da plástica não devem ser subestimados











A notícia de que mais uma jovem morreu na mesa de cirurgia da lipoaspiração reacende o alerta máximo sobre os cuidados que mulheres e homens precisam ter antes de optar pelo bisturi em favor da estética.
O caso foi mais um incentivo para a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC) anunciar a criação de um banco de dados – com atualização permanente e simultânea – das complicações e mortes neste tipo de operação.
O anúncio do banco foi feito pelo novo presidente da SBPC, Sebastião Guerra, em entrevista ao Delas. “Já trabalhávamos com a proposta da criação de um banco de registros para termos um parâmetro nacional sobre as complicações das cirurgias”, afirmou Guerra, que atua em Minas Gerais. A infelicidade da morte noticiada no início da semana só reforçou esta importância, explicou ele. “Já estamos em fase de seleção dos profissionais para essa medida”.
A jornalista Lanusse Martins, de 27 anos, foi para a clínica na tarde de segunda-feira e não voltou mais. A morte da moradora de Brasília, no entanto, se enquadra na categoria exceção. Diferentemente da maioria dos casos, a mulher havia recorrido a um profissional especializado para a operação, contrariando o índice de 98% dos pacientes que fazem justamente o contrário.
Dos 289 processos sobre cirurgias plásticas analisados pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) em 2008 – único estudo do tipo no País e o mais atualizado – apenas seis tinham como alvo profissionais com especialização em cirurgia plástica. O restante se dividia em médicos com nenhuma especialização, ginecologistas, ortopedistas e cardiologistas (em maioria). Os cirurgiões plásticos – que depois dos seis anos de graduação em medicina ainda cursam cinco anos focados em cirurgia plástica, com atualizações sobre riscos e melhor maneira de lidar com os pacientes – somaram apenas 1,6% dos processados. O médico escolhido pela jornalista tem 16 anos de experiência e é credenciado no colégio de cirurgiões plásticos do País.
“As causas da morte dela (Lanusse) ainda estão sendo apuradas e a Sociedade acompanha o caso. Outros problemas podem ter acontecido, alguns deles que são fatalidades, mas é sabido que escolher um médico com especialização já é meio caminho para evitar as complicações”, afirmou o presidente da SBPC.
Ainda que a exigência por especialização seja unanimidade entre as indicações dos especialistas, a norma não é exigência e nem regra nacional. O médico que realiza uma lipo sem o título de especialista não comete nenhuma infração e nem pode ser punido por isso.
Referências e mais referências
Além de procurar médicos referenciados antes da cirurgia plástica é importante lembrar que os riscos de lipoaspiração ou implante de silicone são semelhantes aos de qualquer outro procedimento que envolva anestesia geral, como cirurgias cardiovasculares ou ortopédicas, por exemplo. A inexistência do “risco zero”, portanto, deve ser colocada na balança antes da opção pela operação, alerta a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos. A importância da escolha do profissional passa por conhecer seu histórico de atuação. Os especialistas aconselham a ouvir outros pacientes que já foram submetidos aos cuidados do profissional.
A dica sobre a importância da “referência” é embasada em estatísticas. Quatro em cada dez médicos processados são reincidentes, mostrou o levantamento do Cremesp. Dos 289 médicos envolvidos, 38% eram reincidentes. O caso mais grave era de um profissional que colecionava 16 processos éticos.
Risco brasileiro
A ausência atual de um mapeamento sobre as complicações e mortes provocadas em cirurgias plásticas no Brasil faz com que, por ora, não exista uma taxa nacional que afere o risco da cirurgia plástica brasileira. Pelos dados internacionais, no entanto, as evidências mostram que o País está dentro da margem segura.
A Sociedade Americana dos Cirurgiões Plásticos estudou 400 mil cirurgias plásticas entre 2000 e 2004 e descobriu que em 0,34% delas houve sérias complicações (uma em cada 298 operações) e que em 0,0019% os pacientes morreram (um óbito a cada 51.459 cirurgias). Por este parâmetro o Brasil – que ocupa o segundo lugar no mercado mundial de cirurgias plásticas só atrás do EUA – está na margem. Em média, são entre dez e oito mortes anuais por causa da lipoaspiração em um universo de 550 plásticas realizadas por dia (em média 200 mil por ano).
Antes da cirurgia plástica não deixe de:
Verificar se o médico é credenciado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Isso pode ser feito no site da Sociedade http://www.cirurgiaplastica.org.br/
Procure referências do médico. Vale escutar outros pacientes
Desconfie de preços muito baratos. Médicos que cobram pouco precisam realizar um número excessivo de procedimentos para cobrir os custos. O acúmulo de casos pode facilitar a negligência
Certifique-se sobre a equipe médica do profissional. É preciso contar com anestesistas, enfermeiros e auxiliares, todos gabaritados
Se a cirurgia for feita em uma clínica e não em hospital cheque se a unidade contém aparelhagem e também transporte móvel de UTI em caso de complicações
Pesquise os riscos e benefícios do procedimento e desconfie dos médicos que oferecem “nomes fantasias” – como a nova lipo, o silicone diferente – já que podem ser processos não regulamentados
Seja realista com relação às expectativas. Não adianta querer padrões estéticos que fogem do seu biotipo
Converse bastante com o médico a respeito do seu histórico de saúde, medicamentos que ingere e casos de outras doenças na família. Tudo isso precisa ser levado em conta antes da cirurgia ser realizada
Vale perguntar se a clínica tem alvará da Vigilância sanitária local

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