quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O que uma mulher quer?

Depois dos tantos séculos, durante os quais as religiões fundamentavam tudo, a biologia darwiniana apareceu como operação de catarata, permitindo enxergar e assim explicar a obsessão humana (ou, genericamente, animal e vegetal) pelo moto-contínuo da reprodução. Na verdade, a divina ordem, “crescei e multiplicai-vos”, havia corroborado uma inevitável predisposição natural.

Já em relação a como cumprir tal determinação, religiões e culturas apresentaram diferentes soluções para acomodar ou tentar conter tendências biológicas. De forma estereotipada, o ímpeto natural masculino busca a eficiência quantitativa, pela fecundação do maior número possível de fêmeas, ampliando assim sua descendência – e sua continuidade/imortalidade. A tendência natural feminina seria para a qualidade, para a seleção e manutenção da parceria, em caráter de exclusividade, com o macho mais forte e poderoso, que pudesse lhe trazer filhos saudáveis, proteção e sustento. Obviamente, aqui temos um impasse natural, que nos remete – ainda nos dias de hoje – à imagem do marido galinha, em contraponto à da esposa possessiva, ou à anedótica constatação do desinteresse sexual do homem por sua própria parceira, após a sedução inicial. No mundo da natureza, o homem das cavernas resolvia o assunto “naturalmente”, pela lei do mais forte, e pronto.

Quando avançamos para os tempos ditos civilizados, foi preciso orientar tais ímpetos naturais. A igreja católica e culturas derivadas optaram pela monogamia – o que pode nos levar a deduzir que Deus é feminista, tendo ajudado as mulheres em sua luta pela posse exclusiva, ao classificar como pecaminosa a tendência masculina à multiplicidade. Tal regra não impediu a existência da outra, ou outras - mas sempre a partir de algum arranjo oculto, orientado pela hipocrisia e pela culpa, sob o manto onipresente do machismo.

Outras religiões e culturas optaram por uma adaptação das tendências biológicas naturais, criando regras pelas quais um homem pode se unir a várias mulheres simultaneamente, em geral tantas quantas consiga sustentar. Nesses casos, o machismo fica ainda mais acobertado e justificado.

No mundo laico moderno, os questionamentos dos antigos paradigmas foram lastreados, cada vez mais intensamente, por descobertas científicas, e ajudados, no plano do comportamento social, por métodos anticoncepcionais crescentemente eficientes, de forma que, se houvesse uma revisão da determinação divina, talvez o “crescei e multiplicai-vos” pudesse ser pragmaticamente substituído por “ mantei-vos, ao menos”.

Mas, é claro, não se reprograma um software genético ancestral de uma hora para outra e essa situação de dissonância entre os desejos do corpo e da mente podem gerar situações estressantes. Antes, na prática, as mulheres tinham durante sua vida fértil uma quantidade muito menor de períodos menstruais, visto que, em geral, emendavam uma gravidez na seguinte. Portanto, tinham também menos ocasiões de TPM. Hoje, o metabolismo feminino continua com seu ritual, religiosamente, dentro de sua vocação biológica mais importante, mas seu objetivo é frustrado quase todo mês. Um estereótipo que é parte de nosso anedotário mostra o marido vítima da incompreensível irritação da mulher na TPM. Talvez tal comportamento, embora não deliberado, não seja tão inexplicável assim no plano inconsciente: o corpo passou por alterações hormonais, preparou-se para o grande momento da fecundação e aquele incompetente ao lado não foi capaz de cumprir sua missão?

Nessa atual fase de transição, não temos mais certeza de nossa vocação biológica. Para as mais arrojadas e independentes, quando bate o desejo da maternidade, há até a opção de escolher um anônimo espermatozóide para atendê-lo e depois desafiar a ordem, criando e sustentando sozinha esse filho. Sorte de Freud não ser contemporâneo dessas nossas dissonâncias e incongruências: se ele disse não saber o que quer uma mulher quando elas ainda estavam inseridas de corpo e alma na antiga lógica da reprodução, imagine agora...
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Reportagem tirada do site: BOL - namoro

Um comentário:

  1. Fica difícil romper determinados atavismos físico-biolócico e psicossocias como a determinante REPRODUÇÂO. Uma tendência natural de todo ser vivo PERPETUAR a sua prole individual. No entanto, essa sincronia espaço-tempo não pode justificar as puladas de cerca, as rapidinhs escondidas ou até mesmos as cunhadas e amigas que aparecem pelo caminho. Ao longo desses 10 mil aanos de evolução humana, houve efetivamente evolução. O ser humano vem se aperfeiçoando e se aprimorando a cada nova geração, a cada novo nascimento. difícil é, no entanto, perseverar nos aprimoramentos, que são novidades e obstáculos a serem vencidos. Mais fácil é, sempre, permanecer na estagnação e na mesmice...de certa forma se assim o fosse, ainda estaríamos nas cavernas!
    Cabe a cada homem e a cada muylher, verdadeiramente, buscarem dentro de sí o significado de sua exitência e, munir-se de valores elevados, tais quais o amor. Quando cada ser humano, homem ou mulher (pois elas também trem) se der conta da importância da comunhão com sua alma gêmea e, da importância da fecundação de sua família...ah...nesse dia a humanidade terá dado um grande passo na CIVILIZAÇÃO...hora sim, pois amar, honrar e ser feliz com sua família, respeitando a todos a volta isso é um senso de evolução e civilidade profunda.
    É possível ser feliz monogamicamente e viver intensamente cada minuto desse tempo. Eu faço isso a 20 anos e somos como dois namoradinhos de escola...hehehehe bjs a todos e vivam felizes ao lado dos seus pares e sua família.

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